"Todas nós temos anseio pelo que é selvagem. Existem poucos antídotos aceitos por nossa cultura para esse desejo ardente. Ensinaram-nos a ter vergonha desse tipo de aspiração. Deixaram-nos crescer o cabelo e o usamos para esconder nossos sentimentos. No entanto, o espectro da Mulher Selvagem ainda nos espreita de dia e de noite. Não importa onde estejamos, a sombra que corre atrás de nós tem decididamente quatro patas." -Clarissa Pinkola Estés

sábado, 10 de março de 2012

Todo mundo cresce

Hoje senti orgulho de pessoas em quem já tinha perdido a Fé.


Na postagem anterior eu contei um pouco de como as coisas tinham desandado entre os alunos da UNIFESP após a tentativa de greve do ano passado. Pois bem, criaram-se dois extremos muito fortes: um totalmente contra os movimentos que pudessem envolver qualquer tipo de luta. Outro super mega engajado e tornando um simples gesto de dar flores em mais uma forma de o machismo se expressar na sociedade. Desse emaranhado, surgiram duas formas de meio-termo, aquela que é meio termo porque consegue apoiar os dois lados, dependendo do momento e da discussão, claro (afinal ninguém está 100% do tempo certo); e aquele meio termo que não ta nem aí para o que está acontecendo.


Acontece que depois de muita luta, muitas brigas internas e muita enrolação proveniente de diversas esferas federais, nosso campus foi entregue. Brilhante, majestoso e com um ar-condicionado que já me rendeu 2 dores de garganta, mas que pelo menos me permite assistir as aulas com a pressão em ordem e sem grudar de suor na cadeira. Acontece que esse mesmo prédio magnífico que nós "ganhamos" de repente resolve jogar água pelo teto em algum estudante, a parte aberta no dia da inauguração está fechada, ainda não tem um refeitório decente, os elevadores estão desligados (cadeirantes tem aula na biblioteca por não terem como acessar a sala de aula), e no momento de manutenção externa (lavagem dos vidros) entra água pelas janelas na sala. Não quero nem pensar em dias de chuva forte como ai ser. Pelo menos não abandonaram, continua em obras e em breve todos se sentirão felizes por estar lá, eu inclusive. Aliás, já gosto demais daquele lugar.


Acontece que ele está lá, lindo! Não acho que as lutas devam parar, mas conquistamos muito com essa entrega. Mesmo que o Ministro Mercadante tenha feito discursos bonitos e blá blá blá, pra se sair bem com a entrega, a história desse campus está guardada e registrada em cada tijolo, em casa piso, azulejo, ripa de madeira, degrau de escada e tinta de parede. Tinta essa que insuflou a mais recente discussão: "colar cartazes na parede do prédio novo não pode, porque estraga a pintura." Eu QUASE concordo, não gosto que arranquem tinta de parede nenhuma, nem nova, nem velha. Acontece que sempre entram em ação aqueles dois extremos ali de cima, o que acha que as pessoas colaram de propósito pra depredar patrimônio público (Oii???) e aqueles que acham que tem mais é que colar mesmo (foram 7 anos pra entregar a porra do prédio, até pintarem de novo vão mais uns 5!) Enfim, eu no meio pensei "as pessoas não fizeram isso com essa intenção, certeza! Mas não é legal mesmo" e me manifestei exatamente assim:


"Não gosto muito de coisas coladas na parede não, mas não só por ser novo, mesmo que já fosse velhinho ia arrancar tinta igual.Tem uma galera que colou as coisas nos corrimões, achei interessante porque todo mundo vê e não arranca tinta de nada! Não creio que o pessoal imaginou que ia tirar tinta, é só trocar a fita, tem mta fita dupla face por aí que vc consegue tirar ate do papel sem rasgar. E mais murais seria interessantes também, tem aquelas divisórias enormes que da pra colocar em vários locais e tornar interativo.A gente não precisa sacrificar ninguém por causa de algo simples, mas ta interessante porque há muito tempo eu não via sugestões ao invés de apedrejamento =)"


E pra minha total surpresa, tive um feedback positivo de integrantes dos dois extremos. Ainda temos os exaltados e sempre os teremos, mas esse gesto simples de hoje me mostrou o possível começo de um novo período, de mais conversas, mais acordos, mais paz e menos acusações, rixas, menos guilhotina. Parabéns Unifespianos, pela maturidade que está sendo adquirida e pela capacidade de ouvir.